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INSTITUTO SAÚDE DO CÉREBRO
THE SQUARE PARK OFFICE, SALA: 421

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Logo marca do neuropsicólogo Luan Gama

UM GRITO NO SILÊNCIO:

A LUTA DE UMA MÃE PARA PROTEGER SUA FILHA

Um abraço

O CHAMADO PARA A DOR

O atendimento começou como muitos outros. A assistida, que chamaremos de Mariana*, entrou hesitante, os olhos atentos ao ambiente, como se temesse que cada palavra que dissesse pudesse ser ouvida por alguém que não deveria saber que ela estava ali.

 

Seu corpo franzino carregava o peso de um fardo invisível, uma história que, ao longo dos minutos, começou a se desenrolar entre pausas choro e suspiros.

 

Ela não estava ali por si mesma. Estava ali pela filha.

 

— “O que te trouxe aqui?”

 

Seu olhar encontrou o chão antes de responder.

 

— “Minha filha… aconteceu algo terrível, nunca imaginei que “ele” seria capaz disso.”

 

O “ele” era seu ex-companheiro, o homem que por anos havia sido o centro da sua vida, mas que agora representava seu maior medo.

 

O COMEÇO DO PESADELO

 Mariana havia morado em outra cidade por anos. Construíra sua vida profissional, estabilizara sua rotina e, apesar dos desafios, conseguia manter um equilíbrio entre o trabalho e a maternidade. Mas tudo mudou quando a filha, de apenas oito anos, começou a demonstrar sinais de sofrimento silencioso.

 

— “Ela sempre foi uma criança feliz. Alegre, carinhosa. Mas, de repente, começou a mudar.”

 

Foi a filha de oito anos, que passou a apresentar sintomas físicos inexplicáveis: crises de asma, insônia, pesadelos constantes.

 

A violência que Mariana havia aprendido a suportar também estava atingindo sua filha.

 

E então, algo ainda mais perturbador: o corpo da criança começou a dar sinais físicos de um trauma invisível.

 

Nos meses que passaram com o pai, os sinais de abuso começaram a aparecer. A escola notou mudanças drásticas em seu comportamento:

 

— “Ela começou a chegar na escola chorando muito. As professoras tentavam acalmá-la, mas ela não conseguia. Até que um dia, ela tentou se machucar.”

 

A REVELAÇÃO DE UM GOLPE:

 

  • Crises de pânico antes das provas.

  • Insônia e choro constante.

  • Um relato assustador: “Ela tentou se machucar durante uma crise.”

 

Após ter passado um período com o pai, obedecendo a decisão judicial da guarda compartilhada, Mariana notou algo no início apenas preocupante:

 

— “Ela estava inchada. Achei que fosse apenas uma alergia… mas o cheiro forte, a vermelhidão, tudo me dizia que algo estava errado.”

 

A validação do que havia acontecido foi um primeiro passo fundamental. Não era exagero, não era invenção.

 

Era violência.

 

Mariana foi ao Conselho Tutelar pedir orientação. Lá, ouviu algo que mudou sua percepção para sempre:

 

— “Você precisa ser forte e ir até a delegacia. Porque, se você não fizer nada, você também será responsabilizada.”

 

A frase a atingiu como mais um golpe. Era assim, que ele nomeava cada etapa da descoberta de algo ainda pior.

 

Foi então que a verdade começou a emergir.

 

O ABUSO REVELADO EM FRAGMENTOS

 

Mariana levou sua filha para um exame de corpo e delito, foi atendida por um ginecologista e o exame trouxe um choque inegável:

 

HERPES GENITAL CONFIRMADA.

 

A mente de Mariana se recusava a aceitar. Como uma criança poderia ter aquilo?

 

A médica foi direta:

 

— “Isso só pode ser transmitido por contato direto com uma área infectada. Se fosse em outro local como na boca, com certeza ficaríamos na dúvida mas…”

 

A suspeita de abuso sexual acendeu todos os alertas. O Conselho Tutelar e o Ministério Público entraram no caso, a infecção, a mudança abrupta de comportamento, os impactos emocionais Eram um forte indicativo de que a criança havia sido exposta a alguma forma de violência sexual.

 

Mas ela não conseguia verbalizar o que havia acontecido.

 

Como proteger uma criança que não consegue expressar o próprio sofrimento?

 

Mas, as peças do quebra-cabeça se encaixavam perfeitamente.  Ela tentou se machucar na escola, tinha crises de asma intensificadas por estresse emocional, sofria tremores noturnos e pesadelos recorrentes, além de apresentar infecções fúngicas, como pitiríase versicolor (pano branco) ao redor da boca. A médica mais uma vez não mediu suas palavras:

 

“Sim, a sua filha sofreu abuso sexual.”

 

O mundo de Mariana desmoronou.

 

A filha, que até então não conseguia verbalizar o que havia acontecido, começou a apresentar outros sinais de trauma profundo.

 

Foi na escuta especializada do Conselho Tutelar que ela falou pela primeira vez.

 

Em um misto de inocência e dor, sua pequena voz trouxe uma frase aterradora:

 

— “Mãe, Deus me revelou que ele passou na minha boca.”

 

Mariana ficou sem ar. Sua filha nunca havia mencionado diretamente o que aconteceu. Mas naquele momento, tudo ficou claro.

 

A LUTA PELA JUSTIÇA

 Com as provas médicas, os relatos escolares e a confirmação do Conselho Tutelar, Mariana conseguiu tirar a filha da guarda do pai.

 

Mas a batalha estava apenas começando.

 

Ele era um homem bem-sucedido, articulado, influente. Mesmo diante das evidências, não houve prisão imediata.

 

— “Ele toma remédios controlados mas também bebi muito e uma vez me agrediu na frente dela, sempre me controlou. E agora, ele está tentando reverter tudo contra mim.”

 

Mariana sabia que precisava agir rápido. Ela não podia permitir que a filha voltasse para ele.

 

Mas a menina, mesmo longe do perigo, ainda vivia as consequências do trauma.

 

  • Crises de choro sem explicação.

  • Insônia severa.

  • Dificuldade em confiar em adultos.

 

E, para piorar, Mariana também carregava outra batalha invisível: sua mãe, que sofria de esquizofrenia e necessitava de cuidados constantes.

 

— “Eu estou lutando por duas pessoas ao mesmo tempo. E estou no meu limite.”

 

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA: O PRIMEIRO PASSO PARA A RECUPERAÇÃO

 

Meu papel ali era claro: validar sua dor, ajudá-la a nomear o que aconteceu e traçar um plano de segurança para ambas.

 

Nomear a Violência: Expliquei que o abuso pode ser físico, psicológico, emocional. O que sua filha viveu foi real, e ela precisava de um espaço seguro para processar isso.

 

Romper o Ciclo do Trauma: Tanto Mariana quanto a filha precisavam de atendimento psicológico especializado para lidar com as consequências emocionais desse abuso.

 

Acompanhamento Psicológico e Psiquiátrico Infantil e Especializado: A filha precisava ser avaliada para transtorno de ansiedade, transtorno pós-traumático e depressão infantil. Mariana, por sua vez, também necessitava de suporte psicológico para não colapsar sob o peso da responsabilidade.

 

Encaminhamento Médico Especializado: A menina seria acompanhada por um neuropediatra para avaliar os impactos emocionais e fisiológicos do trauma.

 

A REALIDADE QUE SE REPETE

 Casos como o de Mariana não são isolados.

 

  • No Brasil, a cada hora, 4 crianças sofrem abuso sexual.

  • Mais de 70% dos casos ocorrem dentro de casa.

  • Na maioria das vezes, o agressor é alguém da família.

 

O que aconteceu com sua filha não foi um evento isolado, mas um padrão cruel que se repete em milhares de lares.

 

O silêncio é o maior aliado dos abusadores.

 

E foi esse silêncio que Mariana finalmente rompeu.

 

BARREIRAS E INCERTEZAS

 Para Mariana a luta estava apenas começando, perguntei se ela tinha plano de saúde e diferente de muitos apesar de sua filha ter plano de saúde, inclusive um dos melhores do Brasil a sua resposta não foi entusiasmada.

 

Por que? Bom, tanto eu como ela sabíamos que para um caso como esse era necessário profissionais, principalmente psicólogos, altamente capacitados e nenhum psicólogo(a) que passou anos se capacitando se submete ao que os planos de saúde oferecem.

 

Seria mais uma batalha judicial, fazer com que o plano de saúde arcasse com o tratamento e acompanhamento com profissionais específicos, com experiência e treinamento adequado e não com aqueles que eles oferecem.

 

 

A LUZ NO FIM DO TÚNEL: O Último Olhar Antes de Partir

 Antes de sair da sala, Mariana olhou para mim:

 

— “Eu passei tanto tempo achando que estava exagerando…”

 

— “Você acha que a gente vai conseguir superar isso?”

 

Poderia dar respostas técnicas, falar sobre estatísticas de recuperação, sobre tratamentos eficazes. Mas naquele momento, o que ela precisava ouvir era outra coisa:

 

— “Vocês não estão mais sozinhas. E isso já é um começo. Não temos apenas a opção do plano de saúde, temos profissionais sérios que são voluntários em ONGs, você e sua filha vão ter o suporte que precisam”

 

Naquele dia, Mariana saiu da Defensoria com mais do que papéis.

 

Ela saiu com um plano, um suporte, e a certeza de que, pela primeira vez, alguém acreditava nela.

 

E, acima de tudo, a filha dela nunca mais estaria desprotegida.

 

Salmos 82:3-4:

 

            “Defendam o fraco e o órfão; façam justiça ao pobre e ao oprimido. Libertem o fraco e o necessitado; livrem-nos das mãos dos ímpios.”

 

Essa passagem fala diretamente sobre a necessidade de proteger aqueles que não podem se defender sozinhos. Mariana não só enfrentava uma batalha por si mesma, mas também pela filha, uma criança vulnerável que carregava marcas invisíveis de um trauma profundo.

 

Assim como Deus ordena que se faça justiça ao oprimido, o trabalho realizado ali foi exatamente esse: romper o silêncio, garantir acolhimento e buscar justiça para que uma criança e sua mãe pudessem reconstruir suas vidas longe da dor.

 

A história de Mariana não é apenas sobre sofrimento, mas sobre resistência e redenção. A luta por justiça é árdua, mas Deus sempre levanta instrumentos para libertar aqueles que foram feridos e esquecidos.

23 de fevereiro de 2025.

LUAN GAMA WANDERLEY LEITE

Psicólogo/Neuropsicólogo (CRP-15/3328)

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